terça-feira, 8 de junho de 2010

Lendo Pablo Neruda

Semana passada fui pros pampas argentinos e li Borges. Agora estou na terra do fogo lendo Neruda. Ah! O Neruda. É uma edição da José Olympio, bilíngue, destinada a jovens. Como não sou velho, nem por fora nem por dentro, comprei o livro e estou saboreando. Fico num jogo duplo, entre o português e o espanhol. Leio em voz alta o  poema para receber a musicalidade original. Fico apreciando a língua irmã como se quisesse que ela fosse minha também. E Neruda ali, me dando a ponte.
"Tira-me o pão, se queres.
Tira-me o ar, porém,
não me tires teu riso" (As uvas e o tempo)
Neruda era a fusão, profusão de sentidos, o homem que amou a terra e amou o outro. Um homem que convoca constamente o homem a ser homem e amar:
"Dai-me o silêncio, a água, e a esperança.
Dai-me a batalha, o ferro e os vulcões.
Apagai-me os corpos como os ímãs.
Acorrei às minhas veias, à minha boca.
Falai por minhas palavras e meu sangue"
(sobe para nascer comigo, irmão)
E fico tentado a escrever, a debulhar o trigo das palavras, a fecundar a terra com essa esperança que só a poesia é capaz de dar. Cala minha boca, para que minha alma se encha com o silêncio gritante de Neruda.

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