terça-feira, 30 de setembro de 2014

não sei

Não sei. E isso me conforta. Não sei. E isso é tudo. Não sei. E isso é a lição que me coloca nesse chão. Não sei. É o que quero dizer num espaço em que todos dizem que sabe o tempo todo. Sabem o quê? Sabem do quê? Sabem para quê? Sabem com o que e com quem? Saber anula toda uma caminhada. É que esse saber aí que não quero torna as pessoas arrogantes, insensíveis, pernósticas, esdrúxulas. O diabo a quatro. O diabo de quatro. O quatro do diabo. O quatro e o diabo. O diabo veio me dizer agora que não ponha o nome dele nisso não, porque ele tá é de saco cheio das maledicências dos sabedores de plantão (ou de platão). Arre!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

" ..."

tive uma professora que dizia para eu ser parcimonioso no uso das aspas. elas são um perigo. e passei a me policiar desde então. as palavras entre aspas ficam em estado de suspensão, agônicas, revelam nosso medo ou nossa tentativa de dar a elas uma potência para a nudez. é como se a gente as colocasse numa vitrine, peladas, em poses provocantes, e disséssemos: "venham, apreciem, comam-nas com os olhos, mirem até sugar delas toda sua libido!". tenho pena das palavras aprisionadas pelas
 aspas. coitadas. e coitado de mim que, fazendo parte do espaço acadêmico, vejo-me obrigado a pôr citações em tudo o que é trabalho. as aspas abundam os artigos, os ensaios, as resenhas... e me pego a pensar se não sou visto por aí exatamente como um ser entre aspas. não gosto nada de pensar nisso.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

grito

No teu silêncio mora um grito. E ele é monstruoso.

pedagogia

a pior aula que um professor pode dar é aquela que ensina a formar discípulos. discípulos que são capazes de morrer pelo mestre. discípulos que, quando poderiam voar com suas próprias asas, preferem reproduzir o voo do mestre, acreditando piamente que são detentores da verdade do plano de voo. tolinhos! a liberdade tem outros voos. a liberdade não tolhe. a liberdade não particulariza. a liberdade odeia mestre e discípulos. o que a liberdade quer é pássaros sem distinção.

em breve

em breve será agosto. quando o céu é mais azul. quando as nuvens galopam como carneiros. quando o vento veloz parece querer derrubar nossos monstros. mas eles são inderrubáveis. eu tenho uma coleção deles. num calabouço que só eu conheço nesga alguma de vento penetra. em breve será agosto. em breve todas as canções ecoam. todas as cores se fundem. tudo tudo tudo sente um recomeço. o futuro é logo ali no agosto que está prester a rebentar. e eu aqui, num presente que não sabe o que é o tempo.

alfabeto do não

qual é a minha transgressão de hoje? não ser. não ter. aprender a tabuada do menos. menos por mais é menos. menos por menos é menos. menos é diferente de minos. minotauro solto no abismo. mino ouro de tolo. tudo em minuta. o ritmo diminuto. até o jorro vaporoso do que não tem forma.