sábado, 31 de maio de 2008
O menino-passarinho
quinta-feira, 29 de maio de 2008
JA-BU-TI
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Gente que quase nem gente é
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Escrever é...
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Onde está meu coração?
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Santas sem religião
sábado, 10 de maio de 2008
Mês de Maia ou a liturgia das cinzas e flores
>>>>>Se todos os meses são masculinos no gênero, maio é feminino na essência. Repleto de ícones serenos, como a alma da mulher. Cheio de ardor, como é o amor que só elas conseguem sentir e expressar. Maio é o mês que está sempre grávido de simbologia. Maio deveria ser chamado Maia, escrito assim, com maiúscula.
>>>>>Mas o ritual não parava aí. Tinha as plantas. Não havia uma brecha em que não puséssemos galhos e flores. Nas janelas e portas, os vasos maiores. Pequeno que eu era, às vezes desejava que houvesse mais buracos nas paredes da casa, só para meter neles galhos e flores. Desejo bobo de fazer da casa uma obra surreal.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
O segredo das conchas
Aos nove anos, caminhando tranquilamente pela praia, o menino observava a multidão de conchinhas. Parecia um tapete reluzente ao sol. Foi então que uma concha brilhou mais. O menino abaixou-se e encontrou uma pérola. voltou correndo para mostrar a descoberta aos pais.
- Uma pérola vale muito? - perguntou ele.
- Vale sim, filho.
O pai vendeu a pedra e conseguiu um bom dinheiro. Melhorou a casa, comprou móveis e colocou o restinho na poupança.
O menino não saía da praia, à procura de mais pérolas. Nunca mais encontrou. Mas ficou perito em conchas. Chegava a dizer que elas falavam com ele. Não se interessava por nada que não tivesse a ver com mar, praia e conchas.
O certo é que quem por ali passar, depois de tanto tempo, verá um menino velho, com uma concha no ouvido, escutando segredos.
Quero o dedo de volta
Dedo-mindinho-seu-vizinho-maior-de-todos-fura-bolo-mata-piolhos. Tô com vontade de dar o dedo pra alguém. Daquele jeito, mirando o dedo médio, o maior-de-todos, bem esticado assim... Toma! Era tão bom... Mostrar o dedo era o mesmo que dizer: "Tô nem aí pra você". Era como dar porrada sem doer doendo. Era o mesmo que mandar fulano praquele lugar, sabe?! Toma! Vai catar coquinho e me deixa na minha.
O dedo mandava toda a energia negativa da gente pro outro, e criava uma bolha invisível de proteção do dedo do outro. Ah! tinha também aquela de encostar os dedos fura-bolo e mandar o fulaninho partir com o fura-bolo dele: "Parte aqui!" E pronto, estávamos intrigados até quase-nunca-logo-depois. Era com esse mesmo dedo que a gente lambia os doces e bolos feitos pela mãe e levava bronca. E não era ele que a gente metia na cara de um só pra impor respeito? Eita dedo bom esse... Era bom levantar o dedão e dizer: "Legal". Era assim que o pai fazia, sem dizer uma palavra, só com o dedão erguido fazia a gente feliz. Depois de adulto, dedo só serve mesmo pra pegar as coisas. Não é mais símbolo de nada.
Quero meus dedos de volta.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Dia do Silêncio
Não tiro o mérito das palavras
Mas quero enchê-las de silêncios
Quando as palavras calam, os silêncios dizem muito.
Quero o silêncio do olhar a janela da manhã
Ao sentir o sol e a vida correndo atrás do tempo
Quero o silêncio do ver as ondas do mar se debruçando sobre a areia
Quero o silêncio da grama do parque ao ser pisoteada pelas crianças
Quero o silêncio do mirar o rosto de quem amo
Quero o silêncio do transpor o meu ser para mergulhar nos braços do Criador.
Quero o silêncio duro de uma rocha resignada a resistir
Quero o silêncio suave da folha que cai para tornar-se adubo
Quero o silêncio humilde do grão de poeira levado pela sandália do viajante. Quero o silêncio da noite do campo olhando as estrelas
Enfim, quero compor a mais bela sinfonia silenciosa
E tecer o texto mais perfeito da matéria silêncio
Silencia, minha alma, para que eu seja
E o mundo também.
Sobre água, ponte e barco
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Santos de boteco
Anestesias ou sinestesias?
- Vou sair misturando coisas nesse texto. Tudo porque quero pensar o humano como um poço de sensações. Muitos insistem em ser insensíveis. Burros! vão passar a vida toda engolindo o engolível.Então. Passei essa semana pensando no modo como cada um vê o mundo. Estou no mundo, vejo-o, toco-o, sinto seu cheiro, seu gosto, ouço-o... E se de repente tudo não passar de ilusão? O mundo é ilusão do meu eu. Sim, porque se os sentidos são a ponte do meu ser com o mundo, é claro que é dentro de mim que o mundo se revela. Daí o meu medo. Existe mesmo a realidade? To achando que existe é sensação. A gente vai imprimindo de fora pra dentro.
- Pois a resposta está bem onde a gente não espera encontrar: lá dentro. É como se esse mundo, o dito real, fosse na verdade uma cópia muito falsificada do que realmente é. Estamos mergulhados na caverna de Platão. Ou melhor, somos a caverna. E a luz está dentro de nós. Então, é preciso sair para dentro. Agora entendi porque é errado dizer sair para fora. Não é que seja redundande. É que não existe um fora, só dentro. É entrando pra dentro, bem dentro de nós, que saímos pro mundo que se não é verdadeiro, é bem pessoal. Que doido.
- Está decidido: quero passar a comer o cheiro, cheirar o som, tocar o sabor, ver o toque e ouvir a visão. Assim, misturando tudo, o mundo será outro. Entrar pra dentro pra poder sair pra fora. Eis o segredo.
domingo, 4 de maio de 2008
Palavras mascaradas
não bica, não bica.
A bala que não se chupa
complica, complica.
A porca que não dá cria
não fuça, não fuça.
A boca que nada fala
ofusca, ofusca.
O pé que não joga bola
Suporta, suporta.
A asa que jamais voa
Entorna, entorna.
O braço que não abraça
Agüenta, agüenta.
O olho bem furioso
Só venta, só venta.
bico, bala, porca, pé
asa, braço, olho são
palavrinhas mascaradas
não caia na delas não.
sábado, 3 de maio de 2008
Sobre peixes e águas
Adoro peixe. Não sei de onde vem esse fascínio por este animal. Não sei se peixe é animal. Tenho a mania de só aceitar como animal aquilo que é bípede ou quadrúpede. Peixe não tem pé.
Gosto de peixe, de comer peixe. Carne saudável. Quando pequeno, achava que se comesse peixe eu aprendia a nadar. Que se chupasse a pedrinha da cabeça do peixe, ficaria inteligente. Nunca aprendi a nadar, nem posso dizer que tenho lá uma mente prodigiosa.
A gente comia peixe até na brincadeira. Riscava um peixe na terra molhada. Depois, dois meninos, cada qual com um bastão de ferro pontudo, ia mirando as espinhas do peixe e lançava o ferro, se ele perfurasse a terra, continuava a "comer" o peixe. Brincaderinha perigosa, mas muito legal.
Outro dia ganhei um livro de poemas que me deixou intrigado. Adivinha o título: "Evangelho dos peixes para a ceia de aquário", do maranhense Augusto Cassas. Belíssima coletânea. O prato principal, peixe, é quem sermoneia pelas águas do maranhão e do brasil. Anúncio de que a mesa está posta e ele será sacrificado pelo bem do homem.
Então, me inspirei e fiz a xilogravura que ilustra esse texto. Que venha a ceia de aquário.
Poeminhos inhos
O boto e a bota /Não podem fazer botinho/ A boda e o bode/ Jamais vão fazer bodinho./ Cigarro e cigarra/ Não gestam a cigarinha./ O galo e a gala/ Não fazem nenhum pintinho/ O pinto e a pinta/Não são da mesma ninhada. /O sexo e a sexa /Não fazem mesmo mais nada.