quarta-feira, 28 de maio de 2008

Gente que quase nem gente é


Hoje me lembrei das palavras um frade alemão que era pároco na minha comunidade nos anos 80. Frei Estevão. Vivia sempre rodeado de crianças. Era ele quem cuidava com muito zelo dos coroinhas da igreja. Mas era bem severo com quem cometia erros. Depois, com o coração amolecido, ria e terminava dizendo esta frase: "Essa gente, quase nem gente é".
Fiquei pensando nisso. Quando é que a gente se comporta como quase não-gente? O que é ser quase gente? Pra ser gente é preciso o que mesmo? Gente é diferente de bicho? Como? Gente é melhor ou pior do que bicho? Por que só a gente é gente? Gato não é gente, cachorro também não é, periquito muito menos. Se bem que lá em casa tinha uma cadela chamava Kelha e parecia gente. Tinha até rede pra dormir. Quando ia ter os filhotinhos, deitava-se na redinha, balançava-se com a pata feito gente. Aquele bicho quase nem bicho era de tão parecido com gente.
Lembro também do nosso papagaio, o Firulim. Depois que ele perdeu a esposa, morta por um cachorro doido, o bichinho parou de falar e trocou o poleiro dentro de casa pela copa da mangueira. De lá só saía para se alimentar. Nunca mais falou mesmo. Esse bicho parecia gente também.
Ah, saquei a frase do frei. Os homens, quando não pensam, são quase-gente assim como os bichos quando agem como se pensassem, parecem gente. Saudade das verdades do Frei Estevão.

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