segunda-feira, 25 de abril de 2011

Verbo de estado

Ontem,
a tarde riscou
o céu de um
vermelho-carmim.
Qual serpentes
traiçoeiras,
escorreram
pingos de tinta,
manchando
as linhas das montanhas
as bordas dos prédios
e as asas dos
marrecos selvagens
que voavam em bando.
Para onde iam?

Hoje,
a tarde borda
uma toalha cinza
com finíssima linha
de um sereno que
traceja a paisagem.
Não há tristeza
nem alegria.
Não há dor
nem prazer.
Tudo é, como se o
tempo fosse anulado
e só mostrasse
o instante
do verbo de estado.

sábado, 23 de abril de 2011

Sertânica


Sertao
Upload feito originalmente por cláudio rodrigues
saudade do sol do sertão, de suas casinhas tortas, caiadas de branco, das igrejinhas de uma torre só, do sino tocando nas ave-marias, do ipê-rosa que colore os dias quentes contrastando com a terra seca, das cercas de varas esquecidas, dos cactos com suas mãos para cima. O sertão longe, fundo, mítico, onde o sol é o rei.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ainda a poesia

quem disse que
só é poesia
a noite escura...
que ela é do tempo
das incertezas...
que mora
no recôndito das nuvens
depois do sol
na fresta intervalar
das cores do arco-íris...
quem disse que
a poesia habita
as bordas do
incompreensível...
não percebeu
que..

na lama do pântano
no cheiro do ralo
na luz que ofusca
no fundo do poço
no gato esguio
na lâmina da navalha
que afia o dia...
existe poesia.
poesia não
se mede em anos-luz
mas em filigranas
de um assombro
inaugural.

terça-feira, 19 de abril de 2011

essa tal de poesia III

Sarca Ardente by cláudio rodrigues
quero a poesia
ao rés do chão
abaixo dele até
no submundo
nos subterrâneos
da complacência
lá onde
metáfora alguma
consegue chegar
e as hipérboles metonímicas
personificantes
não a alcancem
porque antes
morreram por asfixia.
quero essa poesia
destituída de florilégios
e ornatos.
quero a poesia
bem escatológica
mesmo.
qualquer vestígio
de divindade
longe dela.

(Sarca Ardente, a photo by cláudio rodrigues on Flickr.)

essa tal de poesia II

Não quero mais bater cabeça
com poesia hermética
fechada
feito sardinha enlatada.
Não quero mais
ter elevada
minha santa ignorância
diante da poesia
que não fede nem cheira.
se ela vier até mim
para me humilhar
fique logo sabendo:
vou mandá-la tomar
lá onde as patas
tomam.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

essa tal de poesia

me disseram, não sei quem,
que a poesia é um bicho
arredio pra burro.
que ela não se mostra assim
tão fácil
não anda assim
tão desfrutável
em qualquer boca.
achei isso de uma arrogância.
se a poesia tivesse nariz
o nariz dela vivia empinado?
me disseram, não lembro quem,
que a poesia vive nas sombras
nos becos mais tortuosos
de um país inalcansável.
esquiva como o quê
ela, a poesia, não
se veste de qualquer palavra não se
alimenta de qualquer linguagem
nem se prende em algum
anzol de sentido.
a poesia nao peida nem caga
porque não tem cu
tem é uma tal de
cloaca.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

GALOPE

Cavalos by cláudio rodrigues
Cavalo de santo
Cavalo de troia
Cavalo do motor
Cavalo-marinho
Cavalo-de-frisa
Doses cavalares
Ca - va - lo

Ando a galopes e
aos tropeços vou
cumprindo uma sina
malsinada
encalacrada na seca
dor de existir.

Minha existência não
pode ser compatilhada
com seu ninga
sou meu próprio
cavalo-de-batalha

Só eu
me tenho
ninguém mais
(Cavalos, a photo by cláudio rodrigues on Flickr)