quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre a música "Vilarejo"

Há músicas que bastam ser ouvidas uma vez para ficarem martelando bem dentro da gente. E não saem mais da nossa cachola. Pois tem uma música dentro de mim há uma semana. Eu a ouvi pela primeira vez quando corria pelo Aterro. Rádio no i-pod. E enquanto ouvia, a vontade era que ela não acabasse. Aquela música me embalava na corrida. E de repente eu queria cair direto na paisagem descrita pela letra. A voz doce de Marisa Monte faz a gente ter quase certeza de que existe céu.
A música chama-se "Vilarejo" e a letra é essa riqueza aí: (...) Lá o tempo espera/Lá é primavera/Portas e janelas /ficam sempre abertas/ Pra sorte entrar/ Em todas as mesas, pão/ Flores enfeitando/ Os caminhos, os vestidos, os destinos/ E essa canção/ Tem um verdadeiro amor/ Para quando você for.
Eu nasci num lugar que era quase como esse aí. E essa canção me apertou o coração. Todo ser humano deveria procurar um lugar desses para viver. Ainda mais sabendo que um verdadeiro amor está lá, à espera.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Ramagens













Juro que vi. Você pode ver também.
Escondidos nas ramagens eu vi um grilo,
uma perereca, uma cigarra e uma libélula.
O grilo cricrilou. A perereca coaxou.
A cigarra zumbiu e a libélula?
Ah, ela libelulou e voou.

domingo, 27 de julho de 2008

PÉ DE PAU

Lá longe, na minha terra
Árvore chama-se pé-de-pau
Aliás outros a chamam
Pois árvore não pode falar.
Eu criança imaginava
Um pé grande de madeira
E outra hora eu via
Um pé de gente enraizado
Com galhos frondosos na coxa
E viajava em absurdos.
Aqui, andando no Aterro,
Vi um lindo pau de pé.
O tronco vai virando
uma coxa, canela e pé
Cadê o resto do corpo?
Onde está o outro pé?
Parece que o corpo está
Brotando da terra dura
Pois o pé chuta o ar
Incomodando o vento.
Pé de gente, pé de mesa
Pau de pé não é de pau?
Essas perguntas me deixam
Com os cabelos em pé.
Cadê a lógica da língua?
Melhor não usar razões
Ficar em pé de igualdade
Ou ser um perna de pau.

sábado, 26 de julho de 2008

Era uma vez a Lapa outra vez













Era uma vez... A Lapa.
Tinha os arcos já. E os bondes também. Tinha os cabarés e malandros na noite. E apareceu o samba, as mulatas, o choro. Depois só restaram os arcos e os bondes.
Mas a Lapa deu sinal de vida. Tem catedral parecendo nave espacial. Do lado pousou um Circo-Voador. E a Santa Teresa se ajoelha aos pés da nova malandragem. Tem uma multidão descolada nos botecos, bares e ruas. Quem vem à Lapa não perde mais a viagem. Porque a Lapa é a maior viagem!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Desenhar é bom!

gloria e corcovado
Adoro rabiscar. Assim, do nada pego lápis, papel e vou traçando lugares. Nem acho que sou desenhista não. Só gosto de olhar pros lugares, coisas, animais, plantas... Nessa admiração, eles acabam caindo direto no papel. Mas ando encucado. Gente é tão difícil de ser desenhado. Meus rabiscos de gente ficam parecendo o bonequinho do Globo, só o esqueleto mesmo. Quando ponho carne e roupa neles aí eles viram monstros.
Pronto. falei. Gente é bicho difícil de capturar heim!

(clica no meu rabisco aí e você verá outros mais)

terça-feira, 22 de julho de 2008

A flor insistente













Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes,
ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
(A flor e a náusea, Drummond)
Graffiti em Botafogo, Rio de Janeiro.

sábado, 19 de julho de 2008

Petit poupee




Menina superpoderosa
Pequena boneca grande
sem braços
onde está tua feiura?
pra onde levaram tua beleza?
Só vejo força
na tua aberração.
Grafitti na Rua da Lapa, Rio de Janeiro.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Caravana

A caravana de elefantes segue em marcha para o oriente.
São tão elegantes.




Graffiti em Botafogo. 2008.

sábado, 12 de julho de 2008

inexplicável

COMO EXPLICAR
A saudade daquilo que não vivi?
O apego a quem nunca se apegou a mim
O desejo incontrolável pelo que nunca existiu?
Como explicar
As lembranças de um tempo que não aconteceu?
As feridas que nunca foram feitas
E os amores que nem fecundaram?
Como dar conta do vazio
que transborda sem ter pra onde?

Graffiti na Rua do Catete.

Miragens

Janelões, sacadas, sobrados
A Lapa colorida de outrora
retratada no mural de um casarão
é miragem a confundir saudosistas.

Rua da Lapa, recuo próximo à ACM.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Cidade dos caranguejos

Mãe e filho passam pela calçada. A pressa. Pernas de menino não sincronizam com as da mãe. Cabeça de mãe para baixo, toc-toc-toc nos buracos; cabeça de menino gira 360 graus, mirando infinitos, zooooooooom...
- Olha mãe, a cidade invadida por caranguejos...
- Onde, menino? - pergunta a mãe, assustada, feito barata tonta.
- Ali, ó. - diz ele, apontando para a parede.
A mãe olha e não vê nada.
Rua do Catete, altura do Largo do Machado.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

OUÇA!


Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
Como não quero ser emprenhado pelas oiças,
pode ter certeza que as conversas entram por um ouvido
e saem por outro.
Filtro muito bem.
Minhas orelhas não são penico.
Não tenho ouvidos de mercador.
Não precisa gritar que não sou mouco.
Mas se gritar, vai ficar rouco.


Graffiti na saída do metrô de Botafogo, Rio de Janeiro.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Salve, Jorge!

São Jorge, meu sãojorgim.
Quero ser guerreiro assim
matar dragões, galopar
até o firinfinfin.

Graffiti na parede lateral da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa, Beco dos Carmelitas, Rio de Janeiro.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O PODER

Uma negra e uma branca no mesmo muro.
Uma quase mostra o fruto proibido.
A outra mostra o fruto concebido.
Largo Maria Portugal, Laranjeiras, Rio de Janeiro