terça-feira, 22 de abril de 2014

desoração

meu deus, hoje me permita não ser. me permita não ser agora. me permita o esvaziamento do meu ser. me permita a água turva, a lama, o barro, vida uterina. e me permita não evocá-lo mais da forma que querem, e que tu não quereria, se de fato falasses. pousa sobre mim a tua finitude. permite-te também seres assim uma coisa que não permanece. sejas o bóson de rigs ou a espessura do escuro. e se eu pudesse orar, se me fosse permitido orar sem religião, sem crença, sem fundamento, a pedra angular desse credo seria o desapego de ti. porque o mundo anda cheio de clemência. e não posso crer numa divindade que só se alimenta de elogios.