quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os smurfs, o filme

Não quero ser nostálgico. O que passou, passou. Mas olhando os desenhos animados hoje, prefiro mil vezes os da década de oitenta. Mil vezes. Histórias bem mais interessantes. Nos permitiam sonhar mais. Os smurfs eram um dos meus preferidos. Os pequenos seres azuis moravam em casa de cogumelo, numa clareira da floresta. Cada um tinha uma função ali na aldeia, como tinha também um estilo. Todos eram orientados pelo papai smurf, o único que se vestia diferente. E o que dizer da smurfete, a única mulher do grupo? Engraçado é que sempre me perguntava, como eles surgiram, se só tinha ela de mulher... Bobagem. Adorava o Gargamel, o bruxo que queria capturar os azuisinhos. Gargamel e o seu gato, o Cruel, eram só se davam mal. E a musiquinha de abertura que fazia a gente correr para a TV? tra-lá-lá-lá....
Agora ressuscitaram os smurfs. Mas por que foram colocá-los justamente na cidade grande, perdidos? Por que não criar um épico lá na floresta mesmo? É tendênica que não me agrada nada, descaracterizar o original. Já existe até um ensaio sensual com a Smurfete, para uma revista. Olhei e vi perfeitamente não a Smurfete, mas uma versão da Madona ou da Lady Gaga. 
O cúmulo. Quero de volta a minha imagem original. Não admito que roubem de mim isso.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Viva São João

E no dia de São João, o Google está assim, em homenagem a essa festa europeia que o Brasil tao bem adaptou. Vamos pular fogueira! Olha a chuva! É mentira! Anarriê! Anavã! Toca o forró, sanfoneiro! Viva São João!

terça-feira, 21 de junho de 2011

três

Era uma vez... uma traça, um traço e uma coisa. Os três se encontraram num livro velho cheio de poeira que há anos não era aberto e vivia no sotão de uma casa abandonada. Era uma vez os três.
A traça chegou muito resignada a fazer do livro sua morada.
O traço permanecia muito resignado a não servir de alimento à gorda traça.
A coisa... o problema é que a coisa nem sabia quem ela era e por que estava ali. A coisa era assim uma amnesiada. E pelo seu jeito de vestir e portar-se, era um tipo de sujeito indeterminado, uma espécie de artigo indefinido, quase oculta de si mesmo.
A coisa era um perigo para a traça e para o traço, que resolveram investigá-la.
- A amiga pode dizer quem é? - perguntou o traço.
- Sou... eu... sou... sabe que eu não sei o que sou... - disse a coisa.
- De onde você vem? - perguntou a traça.
- Vim... eu vim... sabe que não sei de onde vim... - respondeu a coisa, coçando a cabeça.
Cada um resolveu dizer pra que servia, para ver se a coisa se lembrava de algo.
- Eu sirvo para cortar a frase e inserir uma informação - disse o traço.
- Eu sirvo para cortar o papel e engoli-lo numa boa - disse a traça.
- E eu sirvo para... sirvo para... para que eu sirvo mesmo? - perguntou o confusa coisa.
- Se você não sabe quem é, de onde vem e para que serve, - disse o traço - então você só pode ser um troço.
E foi assim que a coisa virou troço e ficou ali, morando no livro.
Era uma vez um traço, uma traça e um troço.

O traço e a traça

Uma traça, que acabara de escolher um gordo livro para jantar, se deparou, de repente, com um traço em meio aos fios de frases macarrônicas. Ele olhou para ela. Ela olhou para ele. Amor à primeira vista? Não sei. Vamos acompanhar o encontro:
- Quem é você? - perguntou o traço.
- Sou uma traça - disse a traça. - E você, quem é? - perguntou ela.
- Sou o traço. - disse o traço.
- O que faz você aqui? - Quis saber o traço.
- Eu traço as gostosas páginas deste livro. - disse a traça. E você? Que faz? - perguntou ela.
- Eu traço as belas páginas deste livro. - respondeu ele.
- Ah, é? Fazemos a mesma coisa? - perguntou ela, curiosa.
- Acho que não - respondeu ele. - Minha função é cortar a frase para inserir algo.
- Não me diga! - exclamou a traça, convencida de que havia encontrado sua alma gêmea. - Pois eu também faço a mesma coisa: corto a frase bonitinho e insirou-a em outro contexto.
Intrigado, o traço continuou:
- Mas explique como você faz isso mesmo...
- É pra já, disse a traça. E começou a traçar o fio da frase em que o traço estava.
Mas ela não contava com uma coisa: que o traço atravessaria sua garganta.
A traça traçou o traço ou foi o traço quem traçou a traça?
Era uma vez uma traça. Era uma vez um traço.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Que é simpatia - videopoema



Trabalho de literatura que fiz com minhas alunas da EJA, da Rede Sagrado, Copacabana. É o primeiro de uma série. A ideia é ler poemas, dizer, declamar, inovar, performatizar.  Um estímulo à leitura e ao prazer de falar poemas.  Obrigado, meninas. Vamos continuar com o projeto! Segue o poema completo:

Que é Simpatia

(
 
Simpatia – é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia – são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia – meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d’agosto
É o que m’inspira teu rosto…
- Simpatia – é quase amor!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

estase

Coagulação, feito no iPad, pintura a dedo, Cláudio Rodrigues
Não sei se vou, se fico, se deixo, se abstraio, se concretizo... Não sei não. Tem horas que o relógio da gente - não o biológico, mas aquele que dá corda às nossas ações e pensamentos - parece ter quebrado. E a sensação é que não se vai a lugar algum. Tudo suspenso. Tudo estático, repouso que beira o ridículo porque não é repouso coisíssima nenhuma, já que incomoda tanto quanto a sensação de equilíbrio relativo.  Mas não quero a estase, que me paralisa o sangue; quero é o extase, que me paralisa a alma e me projeta pro sem nome. O indizível, o que estarrece, o que causa terror magnífico. Não quero o intelígivel, o fácil, aquilo que, de tão gasto, virou fóssil. Quero o que não se pode comensurar. Mas então percebo que o querer é só uma vontade, não é uma realização. Não é potência. Não é. Sinto que o sangue se coagula em bolhas de desejo e percorre as veias como que louco de vontade de desintegrar-se ou de ganhar uma liga para virar tinta. É com ele que quero tingir meus desenhos e construir as paisagens que nunca visitei e que me visitam a mim para dizer de outros mundos. Com essa tinta é que pinto o que não fui, o que nunca serei. Não quero a estase; quero o êxtase.