segunda-feira, 5 de maio de 2008

Santos de boteco

Toda tardinha ele chega no bar, senta na mesma cadeira, na frente do balcão, percorre o olhar em volta em 380 graus, parando-o na santa, no altarzinho iluminado com uma lâmpada vermelha e decorado com flores de plástico, tira o chapéu respeitosa e intimamente e diz: "Boa noite, minha preta. Há identificação entre os dois: a santa e o negro Oston. Pedreiro, nego Oston viera muito jovem do Vale do Jequitinhonha para São Paulo. Perambulando pela cidade, nunca se sentiu preso a ela. Por isso gosta tanto das ruas, dos botecos, dos arranha-céus. Trabalha de dia para beber à noite. "Bença mãe, preta"... Fala ele pra santa, mais uma vez. Nunca quis ser ninguém, gente grã-fina, chiqueza do mundo. Deseja apenas sentar ali toda tarde, sem pensar em nada e beber sua cachacinha. É assim há muitos anos. Pra que querer outra coisa? Sempre que pede a primeira dose, se aproxima da santa, derrama um pouco da cachaça e diz: "essa é pra tu, santinha". E bebe o restante. Se a santa bebesse cachaça... se ela percebesse o Oston, o que lhe diria? Homem nasceu pra se contentar com tão pouco? É feliz pra burro o diabo do Oston.

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