sábado, 20 de março de 2010

ETERNAS INIMIGAS

Cena 1. Zumbido de asas. Rua movimentada de cidade grande. Uma barata gorda voa tranquilamente pelas ruas da metrópole. Metrópole é lugar de barata? Quem disse que não?! Ela faz seus voos matinais, quer talvez perder peso. Voa pra cima, voa pra baixo. Voa prum lado, voa pra outro.
Cena 2. Uma mulher chique, nem alta nem baixa, magrinha, com cara de menina brincalhona, sai da loja cheia de compras. Direge-se ao carro, abre a porta, coloca as coisas, entra... Liga, dá a partida e sai tranquilamente, está feliz. Nada melhor que acordar num dia de sol e ir às compras. Sente-se em estado pleno de calma. Comprar é terapia, assim como pintar, desenhar... a mulher é artista.
Cena 3. Encontro de duas inimigas. Quem cruza o caminho de quem? De repente... vumpt! Splash! A barata se joga contra o vidro dianteiro do carro. Os olhos azuis da mulher percebem os olhinhos esbugalhados da barata que encara a motorista com um certo desprezo. Raiva, ódio, medo, pânico... nas duas. Parece uma luta de Matrix. Câmera lenta: A mulher freia, cerra os punhos. A barata de pé no parabrisa, ergue os bracinhos e com uma mão convida a humana para a luta.
Cena 4. Do lado de dentro, a mulher se contorce toda de nojo daquele inseto asqueroso. Do lado de fora, a barata, tonta da pancada, fita melhor a mulher e tem náusea. Não suporta ver uma humana sentir nojo dela. A mulher vê a barata com os bracinhos na cintura, desafiando-a e gritando fininho. Pena que não ouve nada, mas a barata está vermelha de raiva e grita: “Ui, bicha, ainda me orgulho!” dá um voo e some.
Cena 5. A mulher segue o percurso, e então lembra-se de olhar para o lado. A janela está entreaberta. E quem ela vê voando ao lado? A baratinha insistente. Desesperada, a mulher fecha o vidro. Não quer ver aquele bicho ali dentro. “Por que Deus fez a barata?” resmunga. E lá do banco traseiro, tentando arrumar a asinha esquerda que amassou na entrada, antes de o vidro ser fechado completamente, a baratinha pensa: “Por que o criador foi fazer a mulher?”.
Cena 6. A mulher chega em casa e, ao apanhar as compras no banco traseiro do carro, descobre a barata. Grito de ódio e desespero! A baratinha, já bem descansada após a carona da inimiga, levanta voo e sai pela janela, rindo e pensando: “Coitada, e é esse ser capaz de povoar a terra? Com esse medo todo, será que todos os que nascem dela herdam tal fraqueza? Que Deus tenha piedade dos homens!”

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