quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Carta ao presidente, no dia do seu aniversário

Senhor presidente,

Nasci no interior do Maranhão, na década de 70, e acompanhei, ainda criança, os conflitos entre posseiros e pistoleiros do latifúndio. Acompanhei também romarias e mutirões à zona rural com a finalidade de gritar contra os assassinatos de lavradores. Muita gente foi morta pela grilagem na década de 80. Naquela época, os lavradores, o pessoal da igreja católica que pregava a teologia da libertação... já falavam de um país governado por você. Cresci associando seu nome à justiça. Com 10 anos, obviamente, eu não sabia sua história, mas sabia quem era o senhor e o que havia feito pelos trabalhadores, o que havia sofrido nos porões da ditadura.

Vieram as eleições 89. Lembro da alegria das pessoas humildes ao falarem do senhor, de sua força, de seu otimismo. Lembro que as notícias mentirosas da imprensa deixavam a gente irritada, num desassossego. O único meio que tínhamos era o rádio e a TV, que prestavam um serviço vil. Sabíamos dos descalabros por fontes orais. Lembro que quando estava na 8 série, recebemos um livro de história que, na parte da República, estampava sua foto. Que orgulho ver o senhor num livro de História. Que orgulho ler sua história num livro de História. Passaram-se muitos anos. O senhor foi eleito presidente. Eu já não morava mais no Maranhão. Como tantos, como o senhor, tinha migrado ao sudeste, em busca de avanços. Acompanhei a mudança que o seu governo proporcionou ao país. Quando viajava pelo nordeste, via as pessoas trocando os jegues por bicicletas, e essas por motos, enquanto alguns trocavam motos por carros. Vi o pobre plantando sua horta na certeza de que os frutos dela trariam qualidade de vida. Vi as donas de casa comprando alimento com o dinheiro do bolsa família. Vi as pessoas alegres porque tinham o que comer. Eu mesmo me beneficiei dos avanços, porque fiz mestrado e doutorado com auxílio de bolsas (capes e cnpq) e hoje procuro um pós-doutorado (talvez fora do país).

Presidente, o senhor é o líder que este país precisava para diminuir o fosso entre ricos e pobres, letrados e iletrados, norte-sul, famintos e saciados... O senhor mostrou a este país que todos devem ter de fato as mesmas oportunidades e só isso fará o país ser visto com outros olhos. O senhor, um torneiro mecânico, se tornou o homem mais respeitado nesses 500 anos de Brasil. E falem o que falar, ninguém vai apagar da História sua grande contribuição. Podem tentar diminui-lo, podem dizer que o senhor foi populista (como pode ser populista um homem cuja raiz é o povo?!). O senhor fala brasileiro. O senhor não fala a falsa gramática da minoria. O senhor fala a gramática do olhar, dos gestos, das emoções. O senhor olha no olho e diz. E aqui lembro, emocionado, do seu discurso aos empresários na semana passada. Não é possível que digam que o senhor é analfabeto depois de um discurso desses! (a meu ver, o seu texto improvisado tornou-se já um dos discursos históricos). Não vão tirar do senhor seu curso superior feito fora da academia, na vida. O senhor teve professores que qualquer um gostaria de ter. O senhor merece receber vários doutor honoris causa. O senhor merece receber um nobel da paz.
 
Agradeço a Deus por sua existência. Agradeço a Deus por ter permitido que o senhor viesse ao mundo brasileiro, nordestino, pobre. Agradeço-lhe por representar os milhões de brasileiros que não podiam ter representação.
 
Grande presidente! Vamos ao nobel!
 
Cláudio Rodrigues, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2010.
 

4 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Carta perfeita, Cláudio. Fui lendo e lembrando de algumas cenas de minha vida (desde São Paulo até João Pessoa). Sempre acreditei no Lula. Pode vir quem vier... nomes e mais nomes. O nome de nosso presidente é marca de nossa história. É um grande orgulho para nós.

Um abraço.

Ana Tapadas disse...

Continuas militante! Só falta ir votar...
bj

Gerana Damulakis disse...

Passei só para dizer alô, C.

Cida disse...

Belissima carta! Parabéns pela intensidade com quer escreve.
Nosso querido presidente ficará na história. Beijos!!