segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pentelho

O pentelho. Pentelho mesmo, sentido literal. Estava lá. No mictório. Pentelho crespo. Não há pentelho liso, né. Estava lá. Na borda, quase caindo dentro. E que tinha eu de ver aquilo? Quase travei a vontade de mijar. Quando veio o jato, mirei nele, o pentelho, o inimigo insistente. Quem seria o dono? E como é que ele se soltou das partes baixas indo parar ali? Asco. Mirei no fio crespo. Estava colado mesmo. Não descia junto com meu mijo cor de ouro. Parecia uma assinatura. Igual a do Duchamps no mictório dadá. A fonte dadá, engolidora de mijo. E se... o Duchamps tivesse assinado sua obra dadaísta com seus pentelhos? O escândalo seria maior, certamente, mas teria apelo ainda mais eloquente. Meu pensamento estava sendo dadaísta também, destruindo qualquer pensamento sobre estética, qualquer beleza sobre a vida. Meu pensamento, alimentado pelo que o pentelho alheio me provocou, me mostrava o animalesco em mim, ali, diante da fonte, feita para eliminar o que sai de minhas entranhas e que já não me serve. Pensamento pentelho esse, que me joga na cara o animal que sou. Sem fineza alguma. Saí do transe, fechei a braguilha. Olhei novamente o mictório. O pentelho havia sumido.

Um comentário:

Letícia Palmeira disse...

Veja só, Cláudio, um pequeno detalhe e nos tornamos animais em guerra. O pior é encontrar tais coisas em sabonetes. É uma sensação de invasão de privacidade.

Beijo.