terça-feira, 16 de abril de 2013

eu andava por copacabana. despretensiosamente. entrei numa galeria que se julga shopping. velharia com cisma de novo. o olho da cara. a cara do olho. o olho. só queria fazer um poema. sobre ranços. sobre mofo. sobre almas. é que velharias têm mais alma que corpo. numa vitrine, o susto. um trio de pequeninos rinocerontes, meio madeira, meio cobre. me chamaram. ficamos nos encarando. eles eram a poesia que eu buscava. eles, presos, tão delicados e ao mesmo tempo. tão. rijos. quando quis fotografá-los, quase quebraram os lustres e espelhos franceses, os azulejos italianos, os vasos chineses... quase promoveram um extermínio. fiquei foi quieto com esse "quase" irracional deles. poema dá prejuízo. imaginei o diálogo deles, à noite, com os bibelôs, o passeio nas paisagens dos finos azulejos, o desdém da áfrica com a europa de luís XIV. disse que ia buscá-los. mas eles me disseram que não sou digno deles. a poesia tem o peso deles, a couraça deles, a sua irracionalidade. religião pura. minha santíssima trindade africana.

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