sexta-feira, 19 de setembro de 2014

" ..."

tive uma professora que dizia para eu ser parcimonioso no uso das aspas. elas são um perigo. e passei a me policiar desde então. as palavras entre aspas ficam em estado de suspensão, agônicas, revelam nosso medo ou nossa tentativa de dar a elas uma potência para a nudez. é como se a gente as colocasse numa vitrine, peladas, em poses provocantes, e disséssemos: "venham, apreciem, comam-nas com os olhos, mirem até sugar delas toda sua libido!". tenho pena das palavras aprisionadas pelas
 aspas. coitadas. e coitado de mim que, fazendo parte do espaço acadêmico, vejo-me obrigado a pôr citações em tudo o que é trabalho. as aspas abundam os artigos, os ensaios, as resenhas... e me pego a pensar se não sou visto por aí exatamente como um ser entre aspas. não gosto nada de pensar nisso.

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