sábado, 10 de maio de 2008

Mês de Maia ou a liturgia das cinzas e flores


>>>>>Se todos os meses são masculinos no gênero, maio é feminino na essência. Repleto de ícones serenos, como a alma da mulher. Cheio de ardor, como é o amor que só elas conseguem sentir e expressar. Maio é o mês que está sempre grávido de simbologia. Maio deveria ser chamado Maia, escrito assim, com maiúscula.
>>>>>Volto à infância para lembrar os gestos de acolhimento a esse mês. Na madrugada do dia primeiro, nossa mãe nos acordava. O rito. No quintal nos esperavam cinzas de um fogo morto. Olhávamos para elas como se fossem ouro. Objeto precioso o pó que para nada serve. Em seguida, nossa tarefa consistia em contornar a casa com aquele pó, seguindo a linha que separa as paredes do chão. Um quadrado de cinzas. Não lembro de ter perguntado à mãe qual o sentido daquilo. Muito menos me vem à lembrança uma explicação dela.
>>>>>Mas o ritual não parava aí. Tinha as plantas. Não havia uma brecha em que não puséssemos galhos e flores. Nas janelas e portas, os vasos maiores. Pequeno que eu era, às vezes desejava que houvesse mais buracos nas paredes da casa, só para meter neles galhos e flores. Desejo bobo de fazer da casa uma obra surreal.
>>>>>>Mas... por que essa liturgia no primeiro de maio? Cinzas e plantas para o ornamento? Será que as cinzas serviam para que nos lembrássemos de que somos feitos de pó e ao pó voltaremos? E as flores... estavam ali para dizer: "nessa casa habita uma mãe". Morte e vida entrelaçadas naquele ato. Começo e fim. Aviso, alerta... Lá em casa, assim como no poema de Adélia "a fala de minha mãe sossega as borboletas".

Um comentário:

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado