terça-feira, 26 de agosto de 2008

O patinho que não era mais feio

História 1: beleza é pra ser notada
Logo depois que a história acaba, o patinho que não é mais feio começa a sentir um troço esquisito. Uma sensação de que ele tinha que ser visto por aquele bando que o expulsou. Esboçou um risinho meio cínico de canto de bico, sabe? Passou a vida toda se escondendo; era hora de dar o troco.
Voltou para seu antigo bando, na beira do rio, próximo ao castelo. Apresentou-se como o patinho feio. Só sua pata-mãe-que-não-era-mãe o reconheceu. Coisa de mãe. O bando ficou biquiaberto diante de tanta beleza. Mas também estavam envergonhados por terem sido tão preconceituosos tempos atrás. Como forma de se redimir do mal que tinham feito, todos concordaram que o mais alto posto daquele reino seria do Cisne.
Agora ele era rei. A primeira coisa que resolveu foi que um reino não poderia viver sem espelhos. Espelhos pequenos, grandes, espelhos nas paredes, no teto, paredes de espelho. Mandou que reproduzissem fotografias de sua real beleza para ser entregue a cada pato do reino. Ao acordarem, todo pato devia olhar para o espelho e admirar-se um pouquinho. Mas depois, devia mirar a fotografia do ex-patinho-feio e comparar as belezas. Isso era ordem e pronto.
Os súditos olhavam-se e, de tanto admirarem a foto do ganso real, começaram a entrar num estado de depressão. Beleza comparada dá nisso. Os patos já nem ligavam em fazer patinhos, as patas nem chocavam mais seus ovos. Todos desejavam ter a beleza do ganso, que estufava cada vez mais o peito.

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