domingo, 24 de agosto de 2008

O patinho que não era mais feio

Fábula nada fabulosa sobre beleza patológica
Entrou pela perna do pato,
saiu pela perna do pinto.
Senhor-rei mandou dizer
Que você conte mais cinco.

É assim que as estórias de causos terminam nas rodas, diante de um fogo, no terreiro da fazenda. O contador passa a vez para outro contador e uma nova estória começa. Assim, todo mundo, num círculo, não pode deixar a conversa acabar. Tem que fazer girar a prosa.
Pois vou fazer um pouco diferente. Minha estória começa pelo fim de uma outra bem conhecida. Ela termina justamente como a maioria: “Quando todos foram felizes”. Ora, ora... felicidade não se derrama facilmente assim, como fonte do ribeirão. Felicidade é leite que transborda da panela quando menos a cozinheira espera. É lua bem transparente brincando na barra do dia. É folha que vento arranca e sai levando, sem rumo certo. É chuva que pega a gente desprevenido. É fruta madura caindo do pé sem aviso.
Lembra daquela estorinha do patinho feio? O patinho desengonçado que foi expulso do bando e teve que perambular por terras distantes? O patinho que ficou amargando e chorando o fato de ter sido excluído do bando e nem notou que tinha crescido? Tudo isso por causa da feiúra, vê se pode!
Na verdade, tudo foi uma grande confusão. Só para refrescar sua cabecinha, o patinho nunca foi pato. Era um ovo de ganso que, não sei por que motivo, acabou sendo chocado por uma senhora pata que não sabia matemática e era um pouco cega, pois nem notou a diferença no tamanho do ovo...
Vou contar mais cinco estorinhas desse pato-ganso-cisne-sei-lá-o-quê. Foi minha mãe quem me contou. Sim, porque minha mãe não queria que seus filhos crescessem pensando que a vida real é como essas estorinhas onde a última página do livro é sempre fim, e o fim é sempre feliz. Ela me ensinou a pensar no depois. Afinal, final de livro não é final de estória. É só um ponto. Depois do ponto, tudo pode acontecer. No recomeço.
Pois então... Ele não era mais aquele patinho feio, cinzento e desajeitado. Era um belo cisne! E os gansos do lago, admirados com sua beleza, vinham render-lhe homenagens.
A estória diz que ele ficou feliz por não ser mais feio e não estava nem um pouco orgulhoso por ser belo. He-he-he. Quá-quá-quá. Orgulho vem com o tempo, o tempo é quem dita a regra neste mundo, e essas regras valem para gente, planta e bicho.

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