sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Perdi os cálculos


Eu devo estar ficando doido. Já conto. Tenho um apego danado a pedras. Sempre tive. Se eu ia num lugar novo, trazia de lá uma pedrinha. Meu quarto era cheio delas, de cores e formas variadas.
Quando tinha 15 anos, porém, comecei a sentir dores fortes nos rins. Dores iguais àquelas não existem não. Ligava o chuveiro e ficava ali, de cócoras, morrendo de dor. Até que expeli a primeira pedrinha. Maior do que um grão de arroz. Parecia que havia cristais, pois brilhava. Disse que ela era meu tesouro e guardei-a junto com as outras. Quando vim embora pro Rio, não podia trazer quase nada e resolvi que traria o cálculo expelido do rim. Aqui também tive uma crise e acabei expelindo duas outras pedras.
O caso é que, há algum tempo, ganhei de uma ex-ex-ex-amiga uma caixinha em pedra-sabão das Minas Gerais, toda trabalhada com motivos geométricos. Logo chamei o presente de Caixa de Pandora. Depois descobri que essa caixinha não poderia ter outro nome mesmo, pois não só guardaria meus cálculos, como me lembraria de coisas ruins, falsidades e maldades. Toc-toc-toc-batendo-na-madeira-savará-deus-me-livre-e-guarde-cruz-credinho.
Pois não é que hoje esbarrei na caixinha que, caindo, quebrou-se e espalhou todos os males pelo quarto! Entrei em pânico. E agora calculo que não quero ter crise renal não.
Peguei os cacos da caixinha de Pandora e joguei no lixo. Eu estava estranhamente feliz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dores devem ser esquecidas. Pedras nos rins também. Já exexex-amigas, não sei não...a ênfase é tanta que acho que a coisa ainda está aí, apedrejando a memória, né?

claudio rodrigues disse...

Realmente, Maray, ex-amigo é como pedra no sapato, como sal na moleira, como cisco no olho. Escrever esse texto já é uma forma de exorcizar os ex.