sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cocoricó

Todo dia era a mesma coisa. Beto pulava a cerca do vizinho, ia até umas bananeiras no fundo do quintal, arriava o calção e mandava ver na merda. Ninguém na casa do vizinho sabia que era ele que diariamente depositava ali o presente de grego.
Beto tinha cabelos amarelados e espetados, olhos grandes, esbugalhados e vermelhos, e era uma criaturinha magra, amarela. Tinha 7 anos de idade. Morava com sua avó, e era o que se pode chamar de peste.
- Quem é o infeliz que vive enchendo meu quintal de merda! Ah, se eu pego! - Gritava a vizinha, toda vez que ia varrer o quintal. O menino ouvia e assoviava, disfarçando sua culpa.
A vizinha criava galinhas, e por causa das travessuras do menino teve que fazer um chiqueirinho e prender as aves. Só o galo, meio desaforado, escapulia de vez em quando.
Certa vez, o Beto chegou em casa com os olhos mais esbugalhados ainda. O ar cansado de quem correu bastante. A avó quis saber o acontecido e ele contou a verdade:
- Vó, eu tava de acocorado debaixo da bananeira da Dona Maria, quando o galo dela chegou perto de mim, abriu o bico e gritou:
- Suma daqui, cagãooooooooo!
(copyright da imagem: Gabriel Archanjo/Piauhy)

2 comentários:

Janaina Amado disse...

Gosto dos seus textos que se aproximam das crianças, como este

blogdonanal.blogspot.com disse...

Ótima história!
Lembrou muito a minha própria infância, "quando havia galos e quintais"...
Saiba que, por causa de seu Menino Passarinho, tenho mergulhado de vez no universo fantástico da literaura infantil.
Obrigado por abrir portas.