terça-feira, 30 de junho de 2009
Loucura no país dos ditados

E vou nessa misturando tudo
porque quem não tem pão
caça com ovo
e quem cai na chuva é pra se sujar.
Às vezes
roupa suja é melhor que limpa
e nem sempre se lava em casa
porque o legal é
dois pássaros voando
e nenhum na mão.
Às vezes
água dura em pedra mole
tanto bate que vira lamaçal
e cão que late muito
é um chato de quatro patas.
Às vezes
em terra de sapo
é que a vaca se atola
lá no brejo.
E em terra de cego
o colorido é por dentro.
Às vezes
acordo todo trocado
virado pelo direito
e com o avesso estampado.
E que ninguém me conserte
porque quero mesmo
terça-feira, 23 de junho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
sábado, 20 de junho de 2009
sexta-feira, 19 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Rabiscos

sábado, 13 de junho de 2009
Revolta dos dedos
Dedo-Mindinho chegou
E foi logo dizendo:
"Ninguém gosta de mim
estão sempre me escondendo".
O Seu-Vizinho ouviu
E foi respondendo logo:
"Pior sou eu, que apareço
apenas como encosto".
Maior-de-Todos escutou
E disse, todo imponente:
"Como vocês reclamam
nunca nunca estão contentes!"
Fura-Bolo opinou:
"Pois vivo muito infeliz
me enchendo de bolos e doces
Vocês não querem um triz?!"
Cata-Piolho berrou:
"Triste de mim que vivo
somente matando inseto
apenas pra isso sirvo!"
A palma da mão falou:
"Queridos, mudem a cara
e vejam sua importância
vocês são coisinhas raras."
Quem é que segura o menino
quando ele pula na esteira?
Quem é que sustenta o peso
Se ele planta bananeira?
Quem é que dá o abraço
na mãe do doce menino?
Quem é que pega o lápis
e sai pintando o destino?
Os dedos mudos ficaram
na luva se recolheram
Ninguém pensou em mudar
Será que eles perceberam?
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Impressões meteorológicas
O trabalho da chuva é chover
O ofício do vento é ventar.
O emprego da neve é nevar
E o papel do trovão? trovejar.
Se a chuva não chove,
Chuva não existe.
Se o vento não venta,
Não existe vento.
Se o trovão não troveja,
Existe trovão?
E o mais estranho
é que os fenômenos
só são ações do seu dono.
Eu não posso chover,
Tu não podes ventar,
nós não temos como trovejar.
Então...
Chove, chuva!
Venta, vento!
Troveja, trovão!
domingo, 7 de junho de 2009
O Deus da mãe do menino

- Ajoelha, filho... – diz a mãe, baixinho.
- Por que, mãe?
- Para adorar Nosso Senhor, pregado na cruz...
- Por que ele tem que ficar pregado aí? - pergunta a inocente criança.
- Para nos salvar, filho... – diz a mãe, num sussurro, para não incomodar a oração dos outros.
- Nos salvar, mãe? - repete o garoto.
- Sim, ele morreu pra que a gente pudesse viver. Mas ele é Deus, viu...
- E Deus morre?
- Ele morreu, mas depois ficou vivo novamente.
- Mas todo Deus não é imorrível, mãe? Tipo superman, homem-aranha, ex-man...
A mãe ria baixinho.
- Esse é um Deus especial, filho. Porque é verdadeiro.
- E os outros são falsos?
- Bem, ahan...Foram inventados...
O menino não ficou convencido, mas ajoelhou. Seus olhos miraram os olhos quase fechados daquele homem na cruz. Não era um super-herói que estava ali, definitivamente. Era o Deus da mãe do menino. Um Deus fraquinho... O menino se pôs a pensar alto.
- Mãe...
- Que foi?
- Se esse Deus fosse o Superman, ele voava bem forte em volta da Terra, e não deixava ser preso. E se fosse o Homem-aranha, ia jogar os bandidos na teia e saía na boa. Se ele fosse um ex-man, congelava ou trucidava com fogo os inimigos...
- Mas esse Deus tinha que morrer pra provar ao mundo que era Deus.
- E ele não podia provar ficando vivinho? Igual os super-heróis?
A mãe ficou bestificada com aquela pergunta.
- Jesus, esse menino diz cada coisa...
Velhas Lembranças

- Meu velho, lembra daqueles tempos que havia terreiro e rodas de criança na ciranda da vida?
- Eita! Hum, hum... Cirandeira...
- Lembra daqueles tempos que somente a luz da lua iluminava nossas noites?
- hum, se lembro...Luarzão...
- Lembra daqueles tempos que as conversas se prolongavam madrugada a dentro sobre bichos, visagens, heróis cangaceiros, profecias sertanejas?
- Virge do céu, demais!
- Lembra daqueles tempos que o fogo faiscava na frente de nossa casa e nós, em volta do fogo, cantávamos ingênuas cantigas, cheias de amor à existência?
- Ah! Como se fosse hoje...
- Lembra daqueles tempos em que nossos amados filhos nos pediam santa benção e nos seguiam felizes até a casa de oração?
- E dá pra esquecer?
- Lembra daqueles tempos em que o céu era mais azul, as estrelas brilhavam mais intensamente, os rios tinham águas mais límpidas e as matas eram mais verdes?
- Eh! Minha velha, o único presente que deixaremos aos nossos filhos, e aos filhos dos filhos dos nossos filhos, serão as lembranças.
- Será que eles hão de querer velhas lembranças, velho?