quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A medida do tempo

Com que olhos você vê o mundo? E qual é a medida de todas as coisas? Não, ninguém percebe o mundo da mesma maneira. E isso é assustadoramente grandioso. Um enigma que talvez não se explicará jamais. Tempo e espaço são convenções do humano. Quem achou que aprisionaria o tempo numa ampulheta ou relógio? Quem achou que observando o moviemento dos astros estaria capturando o tempo? Engano. Porque o tempo esteve o tempo todo dentro de cada homem, dentro, bem no fundo, lá onde o homem se sente homem, ex-istente.

Então, se o tempo está no cerne de cada ser, não há medida. Quando estamos à espera de quem amamos, os segundos mais parecem horas. Às vezes, parece que tudo está congelado, estático. E quando estamos, fnalmente, ao lado de quem amamos, parece que o tempo corre a toda ligeireza. E no entanto, os relógios continuam no mesmo tom. Cadê a consistência do tempo? Fragmentou-se, esfarelou-se diante do ser que o contém: o homem.

E o espaço? Quem nasceu em lugar pequeno e teve que sair para grandes centros deve ter percebido uma sensação estranha. O seu lugar, que antes parecia grande, torna-se pequeno diante da descoberta de outro lugar maior. Parece que o olhar desacostuma a vista. Parece até que faz isso de propósito, para que o homem note que a paisagem dentro dele é infinita e caberá quantas paisagens houver.

Então, uma manhã não é só uma manhã. E o nascer do sol, com toda sua generosidade, não é o mesmo todos os dias. Numa cidadezinha o sol é maior. É o presente do pequeno: ser generoso e deixar a grandiosidade estabelecer-se. Então aquele olhar e o sorriso de uma pessoa estranha não são meros olhares e sorrisos: são presentes da vida, instantes de um espaço-tempo que homem algum deve desperdiçar. Então andar com a cara pra cima nas ruas escuras de uma cidadezinha não é prova de tolice. É a certeza que nosso olhar buscará e encontrará muitas estrelas (algumas cadentes até). E esse olhar será saudosista, pois o homem desejará voltar para o lugar de onde veio: as estrelas.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

O bom é que ninguém tem a mesma visão do mundo. Seria chato se todos vissem o mesmo.
Gostei muito do texto.