quarta-feira, 1 de junho de 2011

estase

Coagulação, feito no iPad, pintura a dedo, Cláudio Rodrigues
Não sei se vou, se fico, se deixo, se abstraio, se concretizo... Não sei não. Tem horas que o relógio da gente - não o biológico, mas aquele que dá corda às nossas ações e pensamentos - parece ter quebrado. E a sensação é que não se vai a lugar algum. Tudo suspenso. Tudo estático, repouso que beira o ridículo porque não é repouso coisíssima nenhuma, já que incomoda tanto quanto a sensação de equilíbrio relativo.  Mas não quero a estase, que me paralisa o sangue; quero é o extase, que me paralisa a alma e me projeta pro sem nome. O indizível, o que estarrece, o que causa terror magnífico. Não quero o intelígivel, o fácil, aquilo que, de tão gasto, virou fóssil. Quero o que não se pode comensurar. Mas então percebo que o querer é só uma vontade, não é uma realização. Não é potência. Não é. Sinto que o sangue se coagula em bolhas de desejo e percorre as veias como que louco de vontade de desintegrar-se ou de ganhar uma liga para virar tinta. É com ele que quero tingir meus desenhos e construir as paisagens que nunca visitei e que me visitam a mim para dizer de outros mundos. Com essa tinta é que pinto o que não fui, o que nunca serei. Não quero a estase; quero o êxtase.

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

A estase é uma chatice de dilatação, faz muito bem em preferir o êxtase!
Belo texto. Estou a gostar desta nova abordagem.
Beijo

claudio rodrigues disse...

Ana, como vai? tenhoe squecido de ler meus coments aqui. Isso é até pecado. Saudade de você.