domingo, 26 de fevereiro de 2012

inconsciente periférico



dei agora para recolher velhos teclados de computadores nos lixos.
foi quase como uma visão que isso começou. andando pelas ruas do centro, de repente, estanquei-me diante de uma dúzia de teclados na calçada. uns pretos, outros brancos. havia um colorido até. antes, eu não reparara direito na poeticidade emanada desse periférico. ele é uma espécie de ponte que nos liga ao mais recôndito da máquina. ele é o tradutor da lingua estranha do computador, que , no fundo, somente computa, processa cálculos, matematicamente vai transformando nossas ideias. o teclado no salva do cálculo. nos introduz, leigos, no interior da máquina. nos salva de nossa ignorância.
pois comecei a juntar teclados velhos.
em casa, eu os abro, separo as folhas transparentes e as teclas; separo tudo e guardo em potes, como se guardasse um grande tesouro, uma botija desenterrada. inicialmente queria fazer poemas com isso. até já tracei vários esboços. estou apenas esperando que as teclas mesmas falem por si, me guiando para o poema que elas querem gerar. já experimentei jogá-los sobre as molduras, feito búzios; o resultado me assustou, me deixando no espanto, um assombro que talvez seja o medo de mexer com o indizível. passei a traduzir tudo como recados não sei de quem, vindos não sei de onde.
meu projeto vai se chamar "inconsciente periférico". acho que é isso. ou mesmo "teclário".
tem gente que mora no tempo das delicadezas; eu moro no tempo das esperas.

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