quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tempo de guarnicê

Meu boizinho morreu. Foi depois do São João do Maranhão. Eu parti pras bandas do sul e o boi não quis ressuscitar. Chamem o xamã, o ancião curandeiro. O pajé guajajara venha cá trazendo seu mato sagrado. Acuda-me o preto-velho com sua fumaça-ungüento. Socorra-me o humilde padreco com sua água benta e incenso fumegante. Meu boizinho precisa viver.
Oi boi, oi boi
Bumba, bumba, meu boi!
Se meu boi não ressurgir serei posto no tronco E a chibata cantará nas minhas costas. A chibata desaforada do coroné. Lamento nativo.
Oi boi, oi boi!
Bumba, bumba, meu boi!
Com seu cinco-salomão na testa, estrela prateada, Na noite em que a lua-cheia derrete-se toda nas ondas do mar. Traz o tambor-de-crioula no batuque e na pungada. Traz também o cacuriá, roda de negros sensuais rebolando. Atravessa fronteiras, galopa nas nuvens, passa por vales e serras, desbrava o Rio que desemboca no Atlântico e enche de festa a noite do meu Brasil.
Meu boizinho de tantos nomes, de muitos sotaques, não esquece do Pai Francisco. Nem deixa morrer de desejos Mãe Catirina. Boizinho mártir, você tem que ressurgir e universalizar teu canto e teu guarnicê.

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Que coisa interessante! Desconhecia...
Beijinho

Gerana Damulakis disse...

Muito interessante, C.