
Saí da sessão do filme José e Pilar agradecendo a Deus pelo Saramago. E engrandecendo a Pilar, por sua bravura, sua dedicação a esse homem, até a morte dele e para além da morte, na fundação que o ajudou a fundar. O filme-documentário mostra a vida exilada na ilha espanhola de Lanzarote e as intensas viagens ao redor do mundo, para conferências, homenagens, lançamentos. Sobretudo o filme é sobre o amor tão incerto por ser tardio e tão certo por ser amor desprendido. Me perguntei: "Se Saramago tivesse recusado tanto convite e tanta viagem, a clausura teria contribuído para mais livros?". E o que queria Pilar ao abandonar sua carreira jornalística para devotar-se religiosamente a um homem trinta anos mais velho? A agonia do velho homem à beira da morte e preocupado com mais um romance (A viagem do elefante, na verdade seu penúltimo) nos faz mergulhar nesse estado agônico, preocupados também nós com o fim antes do fim.
Saramago ensina aquilo que é o fundamento de toda religião: o amor, único sentimento capaz de redimir, de vencer a morte, como diz mesmo o autor na dedicatória do livro A viagem do elefante: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Descanso eterno às cinzas deste grande autor, embaixo de uma pedra, do jardim, de uma casa, numa ilha da Espanha.
2 comentários:
Que bom que partilhas!
Beijo
Gostei, sinceramente, do teu texto. Ao ponto de me apetecer deixar-te aqui um abraço em forma de comentário.
Aproveito ainda para dizer que, afinal, José Saramago descansa em Lisboa, em terra portuguesa, na terra que, pese embora o seu exílio voluntário, ele sempre amou e nunca renegou.
Cumprimentos.
Postar um comentário