domingo, 14 de setembro de 2008

Morto rico, moço pobre: e o diabo no meio

Vou contar uma estória que me vem à memória.
Foi meu vô quem contou. Assim mesmo falou:
- Muito tempo atrás um humilde rapaz
foi dormir, teve um sonho e acordou bem estranho.
não contou pra ninguém; não podia também.
No seu sonho, um morto aparece disposto
e pergunta ao rapaz se ele era capaz
de enfrentar os seus medos. Revelou seu segredo.
O fantasma era nobre; e o moço, bem pobre.
Um morreu na riqueza; outro, nada na mesa.
A riqueza do morto esperava no horto
o futuro ricaço; era fácil dar o passo.
Só bastava coragem, não perder a viagem
O diabo à solta sairia da moita
pra espantar o fulano e acabar com seus planos.
E o morto, coitado, viu-se já condenado
a morar para sempre num braseiro bem quente.
O rapaz corajoso disse: "saio do poço
dou um jeito no diabo amarrando seu rabo".
Meia-noite, no escuro, o rapaz vai seguro
escondido num couro, ele imita um touro.
lambuzado de enxofre, o rapaz dá galope.
Eis que o diabo aparece, e o touro estremece.
- Quem vem lá, diz o diabo. Está desconfiado.
- Sou o touro do inferno, diz o moço, bem terno.
- Nunca vi tal feiura, diz o demo à altura
- Pois não sentes o cheiro? De enxofre estou cheio.
- Sinto o cheiro, é verdade. Mas não é novidade.
Sim, eu nunca me engano, para mim és estranho.
- Pois o dono do inferno sou eu mesmo meu velho
O rabudo sou eu, tudo aquilo é meu.
O diabo berrou, deu pinote, pulou.
Nunca ouviu um insulto mais medonho e absurdo.
- Então como é que é? Será que sou mané?
- Sim senhor, sempre soube, que você era pobre.
Nunca teve um quinto dos infernos, não minto.
Você é um demônio bem esperto e risonho
É melhor ser assim, trabalhando pra mim.
- Eu nao tenho um dono, sai pra lá, seu insano.
- Hehehe, olha o rabo, ele é o teu ponto fraco.
- Tenho o rabo maior, e o meu cheiro é pior.
- Então vamos medir nossos rabos aqui.
O rapaz tinha um trunfo. Era o seu triunfo
Um cruz no seu rabo, amarrou-a no diabo.
O sopapo foi grande. Um gemido gigante
O diabo bufou, tudo desmoronou.
E o rapaz viu o ouro reluzindo no horto.
A botija surgiu e o morto sorriu.
Morto enfim descansou, jovem rico ficou
E o diabo enganado teve raiva do rabo.

Um comentário:

Mauricio disse...

sempre lindos os textos.

um grande abraço