quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

gaiola branca

O que faço com essa página em branco? Me diz. O que faço com o nada? Quer, por favor, me dizer? O que faço com o que inexiste e é todo grande aqui, neste espaço, me encarando sem olho, vociferando contra mim sem boca? O que faço com a não-matéria que, por não existir, deveria ocupar espaço nenhum, e aqui me cerca? Esse branco de página, qual branco da vida, é lume crepitando e quer me queimar. Se se queimasse sozinho, eu poderia tomar um resto de carvão para tentar o desenho, rabisco, mais fácil do que palavrar. Esses monstros não suportam páginas em branco. Gaiolas brancas. Eles nunca terão a mansidão porque habitam a terra do... não sei que terra habitam essas pestes. Então me calo e peço que te cales. Te envio a gaiola vazia, a página em branco, para que tu leias o nada que é meu tudo. É o melhor que posso fazer.

2 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Inda anteontem, em comentário a uma amiga - a Marilene - eu escrevi:

Vê...
Vê o pintor ante a tela nua, imóvel e silente.
Vê o músico, que contempla a pauta vazia.
Vê o poeta e o escritor perante a página virgem.
Vê o escultor que fita o bronze, a pedra ou a massa de barro informe.
Vê... mas vê com os olhos da alma, reverentes,
Pois és neste momento único a feliz testemunha
De um ato de criação!


Abraços, Claudio.

claudio rodrigues disse...

Lindo seu poema, Barcellos. O ato criador, poiético por excelência. Belo!